post\stone v2.1a

mánudagur, maí 30, 2005 feels like more

um relógio parado
e um pêndulo, pendurado
andando de lado em lado
querendo chamar a atenção
não se esqueça daquilo
não se esqueça daquilo
não se esqueça daquilo.

mas olha.
olha bem pra mim,
aqui nesse cristalino de pedra.
por dentro, uma esmeralda é tudo que se projeta;
frente, trás.
de lado,
ao lado.
como se fosse uma película, um filtro verde translúcido
que me deixa olhar tudo, mas me faz não ver mais nada nem ninguém
me faz não querer ver mais ninguém
não quero ver mais nada
se sentir completo e incompleto ao mesmo tempo
e se o filtro sumisse
não enxergaria mais nada

.

um copo cheio de água, jogado ao deserto,
no sol, ao céu aberto,
ele não quer ser esquecido
como um relógio quebrado
nem abandonado
como um trem enferrujado.

.

e aquele veeelho trem enferrujado.
muito, muito bem lembrado

onde as formigas passavam
construíam suas casas, e serviam sua raínha com a mais fina glicose do reino locomotor;
enquanto os vagões balançavam,
já que o vento batia.
fazia o catavento que as crianças deixaram na cabine do motorista girar, e girar
e ali no seu último vagão...
onde os amantes se encontravam,
e contavam um ao outro
seus segredos
suas mágoas
se abraçavam

se amavam.


rafael at 8:09 e.h.
sunnudagur, maí 29, 2005 mar cas

não sei mais se o palhaço tá aqui pra me fazer rir ou pra se divertir comigo
a esperança é que no fim dessa putaria toda ele pegue seus bambolês e bolas coloridas e nariz vermelho e maquiagem idiota e caia fora daqui.
hoje não é dia de brincar com sangue~~~




mas
aqueles dois ainda estão ali
sentados
no alto da alta montanha gelada
acenando pros pássaros
pros peixes lá embaixo
pras nuvens que formavam o que eles bem quisessem ver
sob o pôr-do-sol
que sempre os fez sentir aquela graaande intocável laranja mais de perto
o que ainda não é o suficiente para aquecer os dois seres.

nunca tendo vivido
eles se encontram perdidos
ele não sabe o que fazer
ela não sabe o que faz.

a tempestade chega
o sol se desintegra
as nuvens se rebelam,
tornam-se negras como o véu de uma viúva
e os raios, cortam os céus
tudo desaba
o pequeno ser se levanta, tenta fazer algo pelos que sofrem lá embaixo
algo como, por exemplo, jogar uma agulha no chão e colocar palha ao redor dela
mas sua companheirinha o segura e diz;
"deixa cair, tudo cai."
e eles se abraçam, como se aquilo servisse de consolo
se perdem um no mundo do outro,
vendo tudo acontecer mais devagar
vendo o mundo girar mais devagar
e ela conclui;
"há beleza em todas as cenas,
não há nada de ruim numa tempestade"
e ele não sabe o que dizer
e ela não sabe o que diz.

deixa, deixa cair,
tudo cai
e na beleza de ver tudo de longe,
ele não sabe o que fez
ela não sabe o que fez.


rafael at 10:11 f.h.
miðvikudagur, maí 25, 2005 razões

e ainda o senhor
vendia pipoca em forma de isopor
as crianças brincavam dentro do elevador
o homem corria atrás daquilo que um dia chamara de amor-
escorrendo lágrimas, sujo pelo pavor,
agonizava por aquela coisa sem valor;
e ali, a mulher.
cheia de espinhos como uma flor;
rindo do mundo que não tinha mais cor.

antes pudesse eu ver tudo isso,
antes houvesse, de fato, isso tudo.

não, o mundo estava parado-
bastava respirar,
tudo voltaria a morrer-
nada mais soaria
como um eco de
dor
or
or
or
or
.
.
.


rafael at 8:42 e.h.
vapor

aquele velho trem andando em círculos
aquela velha água refletindo a alma,
iluminada pelas estrelas do avesso
pessoas andavam de bicicleta atrás de onde eu estava
olhavam pra mim, mas não viam nada
observavam o vulto cinza na água lentamente se desintegrar
e sumir
naquele mar de luz

mal-iluminado.


rafael at 8:39 e.h.
sunnudagur, maí 22, 2005 passagens

portal))) ___________________________________________ pessoa


assim permaneceram.
olhando, um para o outro.
sem nada a dizer,
nada a expressar.
como manequins nus, sem cor alguma no corpo,
pose nenhuma a se mostrar.

assim permaneceram.
até que um deles retirou
os parênteses que separavam o ar
de seu coração;



portal~ ________________________________________ pessoa



mas a pessoa nada viu.
a pessoa nada sentiu.
olhando, um para o outro.
como um gesso usado, jogado ao chão,
abandonado.

assim permaneceram,
sem nenhum piscar
brilho algum.

e a pessoa, como uma exclamação em sua mente,
caminhou até mais perto
mas parou.

mesmo assim, o portal se abriu.
tudo o que havia de errado entre eles se curvou
o cheiro de um mundo novo pôde ser sentido
e a pessoa atravessou.



pessoa _____ portal~



a pessoa ficou de costas para o portal.
do outro lado estava frio, frio
e a pessoa resolveu colocar aqueles parênteses que encontrou no chão para se proteger
para se proteger
para se proteger.




pessoa))) ___________ portal~

fim.




considerações finais:
1) eu não tenho culpa se só sei rimar verbos no infinitivo
2) fiz um style novo que eu acho que fica mais legal pra ler coisas grandes sem encheções de saco. tá no último ~ lá em cima, da esquerda pra direita (simple).


rafael at 11:24 f.h.
miðvikudagur, maí 18, 2005 bloodstained spiders

e o homem disse, ao mesmo tempo que descia as escadas para o sótão- "você não sabe viver, garoto. provavelmente não conseguirá nem guiar sua própria vida como um ônibus percorre sistematicamente estradas de cidade em cidade, todos os dias, sem cessar."

e o tal garoto, cabisbaixo e encolhido no canto mais escuro do cômodo, levantou o dedo indicador de sua já ensanguentada mão direita, e, ao mesmo tempo que o sangue pingava suas últimas gotas de vida, segundo a segundo, no chão, pronunciou- "então aqui estou- sem veículos, sem estradas, sem cidades. a pé, descalço, sem lar. andando, em direção ao horizonte que não podes ver, pela grama molhada... sentindo a brisa fazer essas gotas voarem em direção ao oeste, e observando como elas se desintegram pela vastidão do ar. cumprimentando formigas e aranhas quando com elas me encontro, pois elas são as minhas mais verdadeiras e puras amigas; e faço-o com esses olhos mortos e essas mãos frágeis, que você... você, me deu."


rafael at 7:24 e.h.
þriðjudagur, maí 17, 2005 anguish, mommy

japanese inscriptions
surrounded by happy faces
that pointed at me and laughed out loud
feathers that could even fly
leaf-circled eyes
but why so green and lonely?
all those boys who couldn't sing
they stole this voice from me

beating, beating
can't help my breath
going out
helpless
thoughts
going away
thoughts
helpless
going out

'-
oh boy you're so careless
don't fix your eyes at me or you will die
look at my lips
look at my tears
is it my feelings,
is it my fears?
-'

hollow, safe, in a dry place and
left alone in a dark room
remaining voices keep asking
and asking and asking and asking
if is that you
the one who will look down and say

say i'm not blacklisted?
i never wished letters


grant me your wings.


rafael at 11:11 e.h.



das memórias.