post\stone v2.1a

fimmtudagur, september 29, 2005 na guia sem caminho

o chão ia se desfazendo conforme eles andavam,
tudo parecia ser tão perdido.
eles nunca olhavam pra trás.

tudo acabava no fim do sonho,
o chão ia se desfazendo a cada passo,
tudo seria perdido se não seguissem o traço.
nunca tinham visto o que ficou pra trás,
achavam que tudo ia acabar num lindo sonho em paz.

e os olhos se fecharam,
o garoto perdido vivendo sem sentido;
por trás dos carros e das chaminés
via o mendigo esquecido e ele dizia
"ficaram as flores mas as cores se foram,
e eu devia é ter morrido."

ninguém entendia, ninguém queria respirar.
garoto florido, mendigo colorido,
ninguém precisa escutar~
tudo vai ser perdido se não seguirem o traço.


rafael at 9:10 e.h.
laugardagur, september 17, 2005 palavrinhas jogadas ao relento por um idiota que ainda insiste em viver

"atentem para as estrelas que mal se pode ver, e atentem para minhas palavras, senhores donos do mundo. este já não é meu lugar.
eu me lembro de quando via esposas lavando roupa e crianças correndo ao redor desta praça. me lembro de quando eu via senhoras calmas costurando à sombra dessa pereira.
me lembro de como os pássaros batiam as asas, voavam e cantavam quando me viam.
os que batiam as asas, voaram sem cantar quando vocês vieram. os restantes, não mais me reconhecem.
ergo meus olhos e vejo amontoados de pedras, bandeiras brancas rasgadas e queimadas, vejo os tijolos das casas que ajudei a construir, todos fora do lugar.
vejo uma cena pós-guerra. vejo pessoas neuróticas, preocupadas com futilidades, vejo pessoas com medo. vejo o chão cheio de graxa, e engano a mim e aos meus cristalinos, para não acreditar que isto que vejo é sangue.
as estrelas choram, senhores. é delas que vem a chuva. cada mísera gota que os molha é uma mísera amostra do brilho incessante de cada uma delas, tentando penetrar a nós.
e depois de tudo isso, o que me resta a fazer, além de ir embora? caminhar errantemente por outras cidadelas que provavelmente terão o mesmo fim? o que me resta a fazer, além de fechar meus olhos e abrir meus braços, no centro desta praça de onde vos grito?
penetrem-me, gotas. eu não quero ver essas crianças sem lar."


rafael at 2:09 e.h.
laugardagur, september 10, 2005 carbonizando

as crianças que hoje correm pela casa descrevem o futuro.
se cansam, e
se sentam, e
se abraçam, e
se beijam.

elas ainda não acham que verbos conjugados no gerúndio ficam estranhos.
elas não estão chorando.
elas não estão sofrendo.
elas não estão sangrando.
elas não estão morrendo.

... elas ainda têm o pronome /se/.

e eu, um ditongo decrescente, me encontro aqui, perdido no presente incondicional.
abaixo a cabeça e vejo leves gotas caírem e umidecerem a terra,
tão leves...
como uma planta com vergonha de ter que se molhar,
ou uma chuva... que tem medo de despencar~
vejo, narro, descrevo, e lamento, como se fosse me levar a algum lugar,
aquilo que todos chamam de
"o passado."

mas pra mim ele... ele não veio embrulhado

e enquanto penso nisso,
a terra pára,
corta as crianças,
e me diz:
you haven't seen enough.
you haven't seen enough.
you think you have seen it all
but you haven't seen enough.


rafael at 3:11 e.h.



das memórias.