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laugardagur, september 17, 2005 palavrinhas jogadas ao relento por um idiota que ainda insiste em viver

"atentem para as estrelas que mal se pode ver, e atentem para minhas palavras, senhores donos do mundo. este já não é meu lugar.
eu me lembro de quando via esposas lavando roupa e crianças correndo ao redor desta praça. me lembro de quando eu via senhoras calmas costurando à sombra dessa pereira.
me lembro de como os pássaros batiam as asas, voavam e cantavam quando me viam.
os que batiam as asas, voaram sem cantar quando vocês vieram. os restantes, não mais me reconhecem.
ergo meus olhos e vejo amontoados de pedras, bandeiras brancas rasgadas e queimadas, vejo os tijolos das casas que ajudei a construir, todos fora do lugar.
vejo uma cena pós-guerra. vejo pessoas neuróticas, preocupadas com futilidades, vejo pessoas com medo. vejo o chão cheio de graxa, e engano a mim e aos meus cristalinos, para não acreditar que isto que vejo é sangue.
as estrelas choram, senhores. é delas que vem a chuva. cada mísera gota que os molha é uma mísera amostra do brilho incessante de cada uma delas, tentando penetrar a nós.
e depois de tudo isso, o que me resta a fazer, além de ir embora? caminhar errantemente por outras cidadelas que provavelmente terão o mesmo fim? o que me resta a fazer, além de fechar meus olhos e abrir meus braços, no centro desta praça de onde vos grito?
penetrem-me, gotas. eu não quero ver essas crianças sem lar."


rafael at 2:09 e.h.



da memória.