þriðjudagur, júní 20, 2006
arco-íris monocromático
dizer que o céu é todo azul
sem olhar pras nuvens
ou se preocupar com a noite
esperar os dias passarem por você
e você não por eles
dar um pequeno sopro na primeira peça
apreciar a imagem daquilo tudo
desabando
pegar o primeiro avião
e não olhar pra trás
subir até o topo da montanha
pra ouvir o eco da sua voz terminal
sentar-se ao piano e interpretar as mais simples
lentas
e fracas
melodias
pressionar nele várias teclas
simultaneamente
perceber que o som não é mais
o mesmo
sair pra caminhar por um parque
ninguém brincando
ninguém correndo
ninguém
sentar onde costumava ser
seu balanço preferido
azul
enferrujado
idade máxima
6 anos
balançar-se sem tirar os pés do chão
ouvir dos pássaros que esqueceram como cantar
a linda canção de que também não se lembra
e enxergar na areia
escura
úmida
suja
os maços de cigarro que um amiguinho colecionava dentro da lancheira
os tombos no parque
os castelos dos sonhos no parque
as crianças que pulavam no parque
e ver que o parque
não é mais
o mesmo
ver o mundo ficar mais claro
e menos colorido
olhar ao seu redor
ver como tudo parece ficar mais bonito
quando se tranca a última porta
e se prepara pra ir embora
dizer algo sem muito significado
pra alguém que nunca se viu
virar-se
sair caminhando sem destino conhecido
parar quando sentir
pela primeira vez
o vento bater no seu rosto
soltar seja lá o que estiver segurando
olhar pra cima
olhar pra baixo
e tentar se lembrar
qual era mesmo
a cor.
rafael at 8:35 e.h.
miðvikudagur, júní 07, 2006
a estrela cadente que criou o vento | l'étoile filante qui a créé le vent
hoje eu voltei pro parque. o dia estava um pouco, mas só um pouco, mais frio do que costumava estar naquela época. quantos invernos se passaram desde então? sei lá. me convenço de que não importa. é melhor não importar. eu sentei no mesmo banco em que a gente costumava sentar. aí eu lembrei do jeito que você olhava praquele lago ali. você apontava pra algum casal de passarinhos que brincava naquela ilhazinha no meio do lago. e você queria dar nome pra eles. eu dizia que eles não precisavam de nomes... afinal, os nossos nomes poderiam até estragar a beleza que eles tinham. você hesitava um pouco, mas acabava concordando. teve um dia em que você disse que nós dois também não precisávamos de um nome. tinha dias que sentados ali nos perdíamos um no universo do outro... ou construíamos o nosso próprio universo. não que a gente soubesse ou se preocupasse em saber o que exatamente é um universo. você dizia que tinha vontade de sair voando comigo, ir comigo pra bem longe de tudo. eu também tinha. mas no começo eu tinha vergonha de te dizer isso. o sol sempre ia embora. acho que essa foi uma das únicas coisas que não mudou. ele acabou de ir embora também. eu gostava quando você dizia que preferia a noite. que você se sentia mais livre olhando pras estrelas. e teve um dia em que vimos uma estrela cadente. você quis que eu fizesse um desejo. eu quis que você fizesse um desejo. eu pensei... já tenho o que eu quero. e hoje eu penso... ela é uma luz que se apagou há muito tempo atrás. uma luz que morreu há muito tempo atrás. uma estrela cadente que não vai se levantar. e foi quando essas idéias chegaram que meu nariz começou a escorrer. e meus olhos lacrimejaram. não era o vento frio. a vida é uma ida sem volta. naquela época eu não tinha nenhum vício. hoje tenho alguns. mas acho que o pior deles é sentar nessa merda de banco e olhar pra baixo.
rafael at 8:28 e.h.